quarta-feira, 4 de maio de 2011

Desconfiança: amiga ou inimiga?

Está mais que provado que os "baques" que a vida nos prega desenvolvem e alimentam a nossa desconfiança natural.

A desconfiança é uma espécie de "anticorpo sentimental". Tem a função daquela borracha em torno dos carrinhos de choque.
Amortece o impacto de mais uma desilusão amorosa e torna-nos criaturas de corações em banho-maria, deixamos de estar quentes ou frios... ficamos sempre tépidos.

Temos aquela ansiedade para antecipar as pseudo-tragédias, para sentirmos que ninguém nos faz de parvos ou que não estamos a perder o nosso tempo.
Entramos nas relações, não com um pé atrás mas com dois... quantos mais tivéssemos mais usávamos...

Porreiro por um lado, se vier daí más notícias... estamos preparadíssimos!
Vivemos a nossa vida (dita adulta) como escuteiros: sempre alerta!
A energia utilizada neste processo todo é gigantesca. É como se sofrêssemos de tristeza preventiva... sofremos antes do sofrimento propriamente dito.

Os eternos optimistas levantam neste momento o dedo e assinalam o óbvio: não será isto sofrer em duplicado?

@Pierre et Gilles

Pessoalmente penso que não se trata bem de sofrer em duplicado, é mais um "sofrer às prestações". Em vez de sofrermos tudo de uma vez num curto espaço de tempo, vamos sofrendo aos pouquinhos (porque há sempre a esperança que seja somente fruto da nossa imaginação) durante um período maior.

Até aqui depende tudo de gosto pessoal.
Para não me acusarem de fugir com o rabiosque à seringa, assumo que por mim prefiro tudo de uma vez e só se passa por isso uma vez.
Como analogia, quando tive que arrancar os quatro sisos em cirurgia, tentei convencer o cirurgião a arrancar-mos todos de uma vez! Infelizmente, ele explicou-me que era impossível, teria que arrancar um lado de cada vez porque  era necessário um lado "são" para mastigar alimentos... preciosismos.
... uma vez só, fulminante, mas depois de passar não se fala mais nisso... não se rumina a experiência.

... mas para mim o cerne da questão nem é esse. O facto de vivermos desconfiados não provoca na "coisa" uma morte prematura?
Se... no cenário mais hipotético do mundo... vivêssemos sempre como patetas inocentes, não esticávamos a quantidade de experiências positivas?
... e isto já não tem nada a ver com gosto pessoal...

Será que os "calos" sentimentais que vamos desenvolvendo durante a vida não serão mais "espigões" que se vão cravando cada vez mais fundo?

Ok, tem material de discussão para a próxima sessão de pedicure.

3 comentários:

  1. Vivermos desconfiados faz parte da nossa adultícia, da nossa experiência. Como dizes, é uma espécie de "anticorpo sentimental". Por muito que fosse preferível sofrer tudo de uma só vez, creio que seria impossível pois as (des)ilusões vêm, não raras vezes, a "conta-gotas". Umas quando menos esperamos (apesar de toda a desconfiança acumulada no "músculo à esquerda"), outras quando já estamos mais que à espera mas que, ainda assim, permitimos que se instalem em nós. E passamos a vida a dizer (uns mais que outros) ao coração: "Told you so". Mas ele, ingénuo, quer acreditar. Como se fosse sempre a primeira vez...
    Beijinhos da "ex" aluna.

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  2. Sou apologista de "todo o acusado é inocente até ter sido provado o contrário". Cada vez que me envolvo viro a página. Afinal de contas aquela pessoa nova com quem tenho construir algo não tem a culpa dos filhos da mãe que anteriormente conheci. Penso que se eu existo, que não minto, que sou fiel, que sou honesta, outros haverão como eu. Não é fácil mas se quero ter um relacionamento saudável terá que ser assim. No entanto se sinto se me enganam acabou-se a papa doce, acho que a todos os relacionamentos tem que ser dada uma oportunidade, mas não sou parva ou burra para comer palha... Caramba!

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  3. A confiança é feita de cristal, assim que se parte não há super cola 3 que a cole...

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