quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O jogo que é viver


A vida, na sua infinita sabedoria, goza connosco.
Se repararmos com cuidado, temer fortemente uma coisa só vai fazer com ela aconteça mais rápido. Inevitável. Necessitar desesperadamente de algo, só o faz afastar cada vez mais de nós.
Rendam-se.

O problema da vida é que tem um humor demasiado negro... daquele género de humor tão rebuscado, que só passados muitos anos é que finalmente percebemos a “punchline”.
Tenho uma teoria absolutamente infalível sobre este facto. A vida no fundo é um jogo.
Daí aquela sensação de, por vezes, sermos descartados ou de fazermos “all in” em certas ocasiões... mas a vida não é só um jogo de cartas... é mais um jogo de estratégia...

Ao longo da vida, a nossa tarefa é colecionarmos pistas até à velhice. Na velhice, com todas as pistas finalmente em nosso poder, podemos entender o propósito de tudo e chegamos à conclusão sobre o sentido de tudo o que vivemos.
Creio que é aí que está o problema...
Vou ser eu, pela primeira vez, a apontar o erro do “esquema” de viver.

Em primeiro lugar, deve haver graves problemas de comunicação entre a vida e Deus. Penso que o principal problema reside no facto de ambos não dominarem na perfeição as novas tecnologias de informação. Não devem saber utilizar o mail, os chats das redes sociais ou o skype.
Vejamos, se o propósito é mesmo termos a epifania final durante a velhice, porque é que existem as doenças mentalmente degenerativas?

Por mais peças que tenha recolhido durante o meu percurso de vida, como é que é suposto eu chegar a alguma conclusão com Alzheimer?
Comuniquem! Entendam-se... estão a pedir-nos o impossível. É um jogo viciado em que ninguém ganha e na maioria das vezes nem se apercebe que o jogou.

@helmut newton
 
Será que a vida sabe o trabalho que dá recolher cada pecinha?
Sabem a quantidade de tralha e monos que vamos acumulando ao longo da existência? Mágoas? Sofrimentos? Fobias?

Das duas uma... ou nos dão acesso a todas as peças logo no início da vida ou acabam com essa coisa das doenças que nos dão cabo da cabeça...
Tirem de uma vez um curso de internet e parem de nos torrar a  paciência! Este jogo perdeu a graça!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Tenho saudades



Tenho saudades...
... de quando gostávamos de alguém e ficávamos felizes por isso.
... de quando dormíamos no peito de alguém e nos sentíamos seguros.
... de quando amar era ter olhos só para uma pessoa.
... de quando vivíamos os problemas dos outros como se fossem nossos.
... de quando viviam os nossos problemas com preocupação.
... de quando sentíamos que tínhamos peso na vida de alguém.
... de quando tínhamos pressa para contar as coisas boas e más que nos aconteciam no dia.
... de quando gostávamos que o dia de trabalho acabasse.
... de quando contávamos as horas para os encontros e para os dias de férias.
... de quando dávamos desculpas a terceiros para ficarmos juntos.
... de quando achávamos que não aguentávamos mais um dia sem sexo.
... de quando os problemas desapareciam com uma festa no cabelo.
... de quando olhávamos para os olhos de alguém e queríamos dar elogios em vez de críticas.
... de quando dormir era um acto de intimidade e não uma atitude de descanso.
... de quando confiávamos totalmente em alguém.
... de quando assumir a nossa fragilidade era uma condição humana e não uma atitude de fraqueza.
... de quando podíamos dizer o que nos passava na cabeça sem pensar o que pessoa podia imaginar de nós.
... de quando não precisavamos de pôr passwords nos telemóveis.
... de quando amar era uma dádiva e não uma forma de nos consumir tempo.
... de quando víamos caras e corações e tudo tinha o mesmo aspecto.
... de quando não tínhamos vergonha de dizer que queríamos discutir o futuro.
... de quando o lar era o sítio onde baixávamos as defesa e não o sítio onde as erguíamos.
... de quando éramos felizes.
... e de quando podíamos assegurar que éramos amados...

Por favor, devolvam a forma antiga de amar.

domingo, 9 de outubro de 2011

A fase ou crise dos "trinta-e-picos"

Aos 30 entramos na fase de graça "estou-me-nas-tintas-para-o-que-os-outros-pensam-de-mim". Uma fase libertadora, que até nos dá uma aura de super-heróis... pensamos "that's it"... o meu propósito está alcançado, tenho plenos poderes sobre a minha vida e os meus actos, perfeito!

... mas ao vermos a receptividade do mundo em geral para com mais um nascimento de um semi-deus... sucubimos...
O quê?? Voltar à idade do centro da auto-imagem, da aceitação social dos 20s?? never...

... então entramos numa sub-fase...
Por uma questão meramente quantitativa vamos assumir que é a fase dos 35 anos. Pode ser mais cedo ou mais tarde, com base na experiência de cada um...

@Herb Ritts

A fase dos 35 antecede a fase dos 40s.
Tenho pavor à fase dos 40... talvez por ter vivido demasiadas crises dos 40s de outros.
Acho que ser uma mulher de 40 é o equivalente a ser uma santa em vias de canonização. Os homens enlouquecem aos 40s. A sério... ficam loucos... deve ser hormonal.
Acordam e dizem "hey, eu ainda sou novo demais para atinar", largam as mulheres e os filhos, alugam aquelas famosas casas todas brancas com mobiliário moderno, aka casa de playboy ou garçonnière... apanham trocicolos numa tentativa desesperada de controlar o número máximo de mulheres numa discoteca e tentar viver uns "maduros trinta-e-picos". Como se ninguém notasse que estão um nadinha fora de prazo...
Não há paciência!

Bom, voltando à fase 35...
Talvez seja uma antecipação da "crise 40" mas de repente a paciência desaparece... quase toda... é drenada.
Entra-se na fase "vai pastar"...
"O quê não percebeste o que te disse?" - "Vai pastar!"
"Queres condições na nossa relação?" - "Vai pastar!"
"Queres filhos?" - "Vai pastar!"
"Não queres filhos?" - "Vai pastar!"

Já não falamos, discutimos, argumentamos... "Vai pastar!" e não se fala mais nisso.
Logo, logo a seguir à epifania dos 30 e antes da crise dos 40...
Deve ser o nosso organismo a preparar-nos para não remoer muito as coisas pelo o que passamos, senão o futuro vai ser negro!
"Esquece, não te preocupes e descarta"... é o compromisso entre o controlo da situação quase, quase a sucumbir para o "velho-gaiteirismo"...