sexta-feira, 29 de julho de 2011

Poupadinhas

Há uma coisa que sempre me fez espécie. Observei este comportamento desde a minha infância mas também é compreensível, cresci com especialistas...

Tanto a minha avó como a minha mãe pertencem à realeza de uma estirpe a que chamo "as poupadinhas".

As poupadinhas são o mais próximo que temos das mulheres primitivas. Agora, em vez de recolherem bagas, recolhem serviços Vista Alegre e copos de cristal. Em vez de preencherem os buracos da gruta, preenchem louceiros e móveis de preciosidades que só vêem a luz dos candeeiros da sala de jantar uma meia dúzia de vezes na vida.

@Annie Leibovitz

Toalhas bordadas à mão, rendas que faziam parte do enxoval... nunca compreendi este conceito...

Mas estes itens melhoravam a qualidade de vida? Não, não é para isso que estes artigos são coleccionados.
As "peças estrelas" não são só objectos decorativos, são "objectos de posse", é importante sentir que os têm mas apenas podem ser utilizados caso hajam visitas em casa ou caso seja um dia festivo.

No dia-a-dia quanto mais se poupar melhor... IKEA serve perfeitamente. Uma dúzia de copos 1 euro? Pode ser... mas para as visitas... luxo e pompa.

Será que querem iludir os outros que "lá em casa é sempre assim"?

... e porque é que as visitas esporádicas tem melhor tratamento que os "clientes frequentes"?
Não devia ser precisamente ao contrário?

Penso com carinho no serviço de talheres de pratas que os meus padrinhos e os meus pais coleccionaram com tanto afinco durante a minha infância. Quando eu queria um bem perecível, como uma barbie, recebia o garfo e faca de peixe!

Neste momento, o fantástico serviço, que ocupa um espaço descomunal, está trancado numa arrecadação qualquer porque não cabe na maioria das casas actuais.
Também não estou a ver muitas mulheres modernas a saírem dos empregos a tarde e a más horas e começarem a arear as pratas...

Prefiro 200 vezes a história do penico de ouro do Gabriel Garcia Marquez... ao menos era usado...

Sem querer dizimar aqui todos os ícones clássicos, outro conceito inexplicável é a "roupa de andar por casa".
Se a casa é onde abandonamos as máscaras e libertamos o nosso verdadeiro eu... porque é que esse "eu" tem que ser maltrapilho?

... Isto nunca se aplica com visitas. Nunca! Para as visitas sempre o nosso "melhor ar".

Se o lema se aplicar: a minha casa é o meu reino, não coroem outra pessoa que não seja vocês próprios.
Vá lá! Toca a abrir a cristaleira e vestir o melhor vestido de noite... a pizza deve estar quase a chegar...

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